Ainda estás preocupado que usar Bitcoin como garantia possa levar a ser enganado por plataformas offshore? Agora, as regras do jogo mudaram por completo.

A 8 de dezembro de 2025, a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA (CFTC) anunciou diretamente uma notícia que abalou todo o universo cripto: a partir de hoje, Bitcoin (BTC), Ethereum (ETH) e USDC podem, legalmente, ser depositados em contas de futuros nos EUA e usados diretamente como margem de garantia.

Atenção, isto não é algo que está “em estudo” ou “em consulta pública”, mas sim o já lançado “Programa Piloto de Ativos Digitais” (Digital Assets Pilot Program), com entrada imediata em vigor.

**O fim dos dias para as plataformas offshore?**

Pensa nos cenários de antigamente: tinhas criptomoedas e querias experimentar futuros de petróleo, contratos de ouro ou até o índice Nasdaq? Lamento, só podias recorrer a bolsas offshore em Hong Kong, Dubai ou Singapura, sempre com medo que a plataforma desaparecesse, a conta fosse congelada ou que, de repente, a regulação batesse à porta.

E agora? Os corretores de futuros sediados nos EUA (FCM) podem aceitar diretamente o teu BTC, ETH ou USDC como colateral. O mais importante: todo o processo decorre sob o quadro regulamentar da CFTC—liquidação, compensação, segregação de ativos dos clientes, todo o mecanismo de proteção do sistema financeiro americano ao teu dispor.

O que é que isto significa? Que já não precisas de correr riscos em plataformas de zonas cinzentas para usar os teus ativos digitais nos mercados financeiros tradicionais, podes fazê-lo num ambiente regulado e seguro.

**Até que ponto a CFTC está a ser agressiva desta vez?**

Vê os principais pontos deste piloto:

Primeiro, os ativos permitidos inicialmente são BTC, ETH e USDC. Ou seja, os dois principais criptoativos por capitalização de mercado e a stablecoin mais utilizada. Altcoins e outros tokens terão de esperar por futuras fases.

Segundo, nos primeiros três meses do piloto haverá vigilância apertada, mas depois o plano é expandir para ativos do mundo real tokenizados (RWA), como obrigações do Tesouro dos EUA e fundos de mercado monetário. Isto é, basicamente, construir a ponte entre ativos on-chain e finanças tradicionais.

Terceiro, as instituições participantes têm de reportar semanalmente à CFTC com relatórios detalhados. A mensagem dos reguladores é clara: daremos luz verde, mas queremos total transparência.

**Porquê agora?**

O timing é fácil de perceber. A Fed está a retomar o ciclo de descida de juros, a liquidez de mercado está a aumentar; a SEC também está a avançar com um quadro regulatório para inovação cripto; e dados de emprego melhores que o esperado fazem o interesse das instituições tradicionais por ativos digitais disparar.

O movimento da CFTC é, claramente, uma tentativa de se antecipar a outros países, integrando os ativos digitais no sistema financeiro americano de forma oficial. Pensa: se corretores de futuros regulados em Nova Iorque e Chicago puderem aceitar Bitcoin como margem, que hipótese têm as plataformas offshore ainda a navegar zonas de incerteza regulatória?

**O que pode fazer o investidor comum?**

Para retalho, a curto prazo, talvez ainda não tenhas acesso direto a estes serviços dos FCM (os requisitos de compliance são elevados). Mas a longo prazo, isto significa:

Primeiro, a legitimidade dos ativos digitais dá um salto: BTC e ETH deixam de ser apenas “ativos especulativos” e passam a “instrumentos financeiros” reconhecidos pela regulação americana.

Segundo, a eficiência do capital aumenta imenso. Antes tinhas de converter cripto em dólares para negociar futuros; agora, as moedas digitais já servem de margem, poupando custos de conversão e riscos de diferença temporal.

Terceiro, aumenta a transparência e a segurança em todo o setor. Com mais fundos a entrar por vias reguladas, aquelas plataformas oportunistas que vivem da assimetria de informação e arbitragem regulatória perdem cada vez mais espaço.

**E o que se segue?**

Segundo o plano da CFTC, após três meses de piloto, os dados serão avaliados para decidir se as limitações serão aliviadas. Se tudo correr bem, mais ativos digitais poderão ser aceites como garantia, e até tokens de certos protocolos DeFi podem vir a ser incluídos.

Mais revolucionário ainda: se as obrigações do Tesouro tokenizadas puderem ser usadas como margem, é o sinal para o mundo de que ativos on-chain e off-chain já comunicam sem barreiras nos EUA.

A era dourada das plataformas offshore pode mesmo estar a chegar ao fim.