O gigante dos pagamentos finalmente faz a sua jogada! Stripe une-se à Paradigm para lançar o Tempo, apontando a sua derradeira cartada para os pagamentos com stablecoins.

A blockchain de pagamentos dedicada, Tempo, criada em parceria pelos gigantes globais Stripe e Paradigm, iniciou oficialmente a sua testnet pública a 10 de dezembro, ficando aberta a qualquer empresa interessada em construir aplicações de pagamentos com stablecoins para o mundo real. Este lançamento trouxe também novos “parceiros de design” de peso, incluindo o UBS, Mastercard e a plataforma de mercados de previsão Kalshi, que se juntam a nomes já presentes como Deutsche Bank, OpenAI, Shopify, entre outros, formando um ecossistema de luxo.

O objetivo da Tempo é reservar espaço dedicado em bloco a pagamentos ao nível do protocolo e oferecer uma taxa fixa de 0,1 cêntimos por transação, resolvendo de forma definitiva o problema das blockchains tradicionais, onde a congestão leva à subida de taxas e atrasos nos pagamentos. O alvo é o mercado de pagamentos e microtransações do quotidiano, avaliado em biliões de dólares.

Ecossistema All-Star: Porque é que o “círculo de amigos” da Tempo é tão luxuoso?

Quando um gigante dos pagamentos avaliado em 106,7 mil milhões de dólares, que processa 1,4 biliões de dólares em transações anuais, decide construir uma blockchain de raiz, o seu poder de atração é fenomenal. O lançamento da testnet da Tempo é mais do que o início de uma rede tecnológica — é uma “declaração de ecossistema” que cruza as fronteiras da finança tradicional, das grandes tecnológicas e do universo cripto nativo. A lista de parceiros é de sonho: de UBS, Deutsche Bank, Standard Chartered, Cross River Bank (instituições financeiras), a Mastercard, VISA (cartões), passando por OpenAI, Anthropic (líderes em IA), e plataformas como Shopify, DoorDash, Revolut.

Este alinhamento revela a ambição da Tempo: não foi desenhada para especuladores cripto nativos de DeFi, mas sim para o mainstream dos negócios globais. Matt Huang, cofundador da Paradigm e líder do projeto Tempo, é direto: “O ecossistema cripto pode ser bastante intimidante. Queremos colmatar o fosso na experiência do programador para quem pensa em casos de uso reais para stablecoins.” A Stripe tem no seu ADN tornar os pagamentos online tão simples como instalar um plugin, e é precisamente este “modelo plug & play” que a Tempo quer replicar para pagamentos em stablecoins — para que um comerciante do Shopify ou um estafeta do DoorDash possa receber ou enviar fundos em blockchain sem se aperceber.

Mais importante ainda, estes parceiros não são apenas nomes numa lista. Como “parceiros de design”, vão estar profundamente envolvidos na construção inicial e exploração de casos de uso na testnet. Por exemplo, empresas de IA têm necessidades naturais de pagamentos instantâneos e de alta frequência, enquanto grandes bancos focam-se na conformidade e liquidação transfronteiriça eficiente. As suas necessidades reais vão moldar diretamente a versão final da Tempo, garantindo que o produto nasce já alinhado com cenários de uso comerciais de grande escala.

Visão geral dos fundadores e parceiros do ecossistema Tempo

Fundadores principais:

• Stripe: Líder global em processamento de pagamentos online, avaliada em 106,7 mil milhões de dólares, com volume processado de 1,4 biliões de dólares em 2024 (cerca de 1,3% do PIB mundial).
• Paradigm: Um dos maiores fundos de investimento em criptomoedas.

Características centrais da rede:

• Canal dedicado: O protocolo reserva espaço em bloco para transações de pagamento, isolando-as de outras atividades como cunhagem de NFTs ou liquidações.
• Taxa fixa: Objetivo de 0,1 cêntimos por transação de pagamento.
• Pagamento de taxas: Aceita qualquer stablecoin indexada ao dólar (USDT, USDC, etc.).
• Infraestrutura embutida: Inclui uma bolsa descentralizada otimizada para stablecoins e depósitos tokenizados.
• Roadmap: Lançamento oficial previsto para 2026.

Principais parceiros de design (exemplos):

• Instituições financeiras: UBS, Deutsche Bank, Standard Chartered, Cross River Bank.
• Redes de cartões/pagamentos: Mastercard, VISA.
• Empresas de IA: OpenAI, Anthropic.
• Plataformas tecnológicas e de retalho: Shopify, DoorDash, Revolut.
• Mercados de previsão: Kalshi.

Revolução ao nível do protocolo: criar uma “faixa dedicada de autoestrada” para pagamentos

A grande inovação técnica da Tempo está na forma como repensa a lógica de alocação de recursos das blockchains ao nível do protocolo. Em blockchains generalistas como o Ethereum, todos os tipos de transação — desde liquidações DeFi de milhões, cunhagem de NFTs populares, até pagamentos salariais — competem pelo mesmo espaço de bloco, como carros numa estrada pública. Isto faz com que, em períodos de congestionamento (por exemplo, durante o lançamento de um Memecoin), as taxas subam para valores astronómicos e os tempos de liquidação se tornem imprevisíveis — um problema grave para pagamentos comerciais, que exigem custos estáveis e previsíveis.

A solução da Tempo é direta: ao nível do protocolo, cria uma “faixa dedicada de autoestrada” só para pagamentos. Isto significa que as transações de pagamento têm espaço reservado e não competem com outras atividades da rede. William Gaybrick, presidente de tecnologia e negócios da Stripe, ilustrou esta necessidade: “Não há muito tempo, vimos exemplos de empresas de pagamentos salariais baseadas em stablecoins que, devido ao congestionamento causado pelo lançamento global de Memecoins, perderam a capacidade de pagar aos funcionários.” O design da Tempo visa evitar estes cenários catastróficos e garantir que as operações comerciais decorrem de forma fiável, independentemente das condições do mercado.

Graças a este isolamento, a Tempo consegue cumprir a sua promessa revolucionária de custo: taxa fixa de 0,1 cêntimos por pagamento. Em comparação, as taxas de cartões de crédito/débito rondam 1% a 3% do valor, mais uma taxa fixa, o que é proibitivo para microtransações. O modelo de taxa fixa e ultrabaixa da Tempo abre novas possibilidades para cenários de microtransações até agora inviáveis, como chamadas de API pagas à unidade, recompensas de conteúdo, compras dentro de jogos, etc.

Mira na “blue ocean” dos biliões: o novo motor dos micropagamentos e da economia IA

O lançamento da Tempo surge num momento crucial de cruzamento tecnológico e comercial: a economia dos micropagamentos impulsionada por IA está a emergir. A participação de empresas como OpenAI e Anthropic não é coincidência. À medida que os serviços de IA passam a ser usados em tempo real e sob demanda (por exemplo, por chamada de API ou cada inferência de modelo), os modelos de subscrição mensal ou faturação pós-paga tornam-se pesados e pouco eficientes. As empresas procuram cobrança e liquidação instantâneas, ajustadas ao consumo real.

É aí que a Tempo brilha. Com um custo fixo de 0,1 cêntimos, torna-se viável cobrar apenas alguns cêntimos, ou menos, por cada chamada de IA, com liquidação quase instantânea. Isto pode otimizar drasticamente o fluxo de caixa e os modelos de negócio das empresas de IA, ao mesmo tempo que oferece ao utilizador escolhas mais flexíveis e detalhadas. Da mesma forma, este modelo serve para recompensas em conteúdos digitais, liquidação em tempo real na economia de partilha, micropagamentos entre dispositivos IoT, e muito mais.

Neste contexto, a Tempo não é só uma blockchain de pagamentos, mas pretende ser a camada de liquidação da próxima geração da Internet — a Internet do Valor. Quando o CEO da Stripe, Patrick Collison, afirma que mudou de opinião sobre a utilidade dos pagamentos cripto porque vê as empresas a encontrar “atividades financeiras do mundo real” neste espaço, está a referir-se a estes casos de uso que vão além da especulação e assentam na troca real de bens e serviços. O objetivo da Tempo é ser o canal fundamental, invisível mas preferido, destas atividades económicas reais.

“Golpe de mestre” na concorrência dos pagamentos: como é que a Tempo pode mudar as regras do jogo?

A entrada ambiciosa da Tempo é uma verdadeira “bomba” no já competitivo sector dos pagamentos com stablecoins. Já vimos iniciativas como a StableChain, com foco em liquidação via stablecoins em Layer 1, ou a Crown, especializada em stablecoins de moeda local. Mas a Tempo traz uma vantagem inédita: um canal de distribuição quase ilimitado e a confiança das maiores empresas do mundo.

A Stripe cobre metade das empresas Fortune 100 e o seu poder comercial e de relacionamento é inalcançável para projetos puramente cripto. Quando a Tempo for lançada oficialmente em 2026, poderá oferecer instantaneamente a milhões de comerciantes uma opção de pagamento em stablecoin “num só clique” — uma vantagem fundamental à partida. A participação de Mastercard, VISA e outros parceiros indica que a Tempo pode integrar-se com as redes globais de cartões, reduzindo ainda mais as barreiras à adoção.

A competição deixará de ser apenas uma corrida tecnológica e passará a ser uma disputa de ecossistema, distribuição, conformidade e capacidade de integrar negócios reais. O desafio da Tempo será equilibrar o seu “arranque permissionado” (com parceiros a operar os nós validadores) e a promessa futura de descentralização, ao mesmo tempo que garante a sustentabilidade económica do seu modelo de canais dedicados a pagamentos. Mas independentemente destes desafios, a sua entrada marca o início da “guerra das stablecoins” na era dos gigantes, com o foco do mercado a deslocar-se rapidamente do “o que é possível fazer” para “quem serve melhor e mais depressa os negócios reais”.